Captando a Magia do Universo

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sábado, 4 de novembro de 2017

Laika, a cadela sacrificada em nome da corrida espacial há 60 anos



Havia passado apenas um mês desde o lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da Terra, e os cientistas soviéticos estavam ansiosos para saber como um animal se comportaria, por exemplo, com a falta de gravidade, já que o objetivo era enviar o homem ao espaço.


4.out.1957 - O primeiro satélite artificial "Sputnik-1", lançado pelos soviéticos

Em 10 de outubro de 1957 foi comunicado a eles que o lançamento do primeiro ser vivo ao espaço, projeto no qual vinham trabalhando, teria de acontecer antes do aniversário de 40 anos da Revolução Bolchevique, em 7 de novembro. Porque este lançamento era, antes de mais nada, uma peça de propaganda.

Não havia a menor chance de criar algo que garantisse a sobrevivência em quatro semanas. A primeira missão de um ser vivo ao espaço seria suicida.
Apegados a seus cachorros no laboratório, os cientistas pegaram uma vira-lata nas ruas. Começaram o treinamento intensivo colocando-a em caixas cada vez menores para que não entrasse em pânico no espaço. 

Aquela, no entanto, não seria a primeira experiência com bichos. Os Estados Unidos já tinham usado um macaco e a própria União Soviética, um cachorro, só que em voos suborbitais.

Devido ao desenho do Sputnik 2, o cachorro deveria pesar de seis a sete quilos, ter não mais do que 35 centímetros altura, ser vira-lata - os de raça teriam menos resistência -, e de pelo claro, já que os especialistas acreditavam que assim seria mais fácil enxergá-lo no monitor.

Por questões de dimensão e higiene, era preferível que fosse uma fêmea para facilitar a colocação do sistema sanitário.

Mas aquele era um voo sem retorno. O aparelho projetado tinha um depósito de comida, mas o sistema de circulação de ar tinha sido programado para funcionar por sete dias e não permitia o retorno à Terra.

Ao todo, três cachorrinhas eram candidatas ao posto: Albina, que tinha dois voos suborbitais na carreira, a novata Muja e a também principiante Laika. Albina foi poupada em virtude dos serviços já prestados à ciência. Muja tinha as patas dianteiras ligeiramente arqueadas e isso não favorecia as imagens. Laika foi a escolhida.

"Era importante fazer de tudo para o futuro voo do homem ao espaço. Era preciso um ensaio, eram necessários sacrifícios, mas, antes de Laika partir, até eu chorei. Todos sabíamos que ela morreria e pedimos perdão", lembrou a médica Adilia Kotovskaya, em entrevista ao jornal "Rossiyskaya Gazeta".

Um dia antes do lançamento, Yazdovsky levou-a para casa, para brincar com suas crianças e ter um dia normal antes de seu fim. 

Laika foi operada para receber dois sensores, um na costela, para controlar a respiração; e o outro nas artérias carótidas, para acompanhar a pulsação. Durante os primeiros minutos de voo os cientistas já detectaram uma brusca aceleração nos batimentos e nos movimentos respiratórios.


Poucas horas depois do lançamento, por causa de erros de cálculo, a temperatura no interior da cápsula ultrapassou os 40 ºC, causando a morte de Laika, depois de quatro voltas na Terra.

Durante semanas, as autoridades soviéticas preferiram esconder esse fato e informavam que a cadela, que tinha se tornado uma celebridade, estava bem, como se tudo transcorresse sem problemas, até que comunicaram que ela teve que ser sacrificada. Até que, próximo do que seria seu retorno, informaram à população, que nesta fase da viagem, havia sido misturado um veneno à ração de Laika para que ela não sofresse quando voltasse a adentrar a atmosfera terrestre.



O Sputnik 2 continuou orbitando por mais seis meses, até que perdeu altura e se desintegrou nas camadas mais altas da atmosfera. 

Apesar do fracasso que representou, o caso estimulou os especialistas soviéticos a projetar um sistema de ejeção de emergência durante a fase inicial do voo, que mais tarde salvaria a vida de quatro astronautas

Seu corpo em decomposição permaneceria no espaço até 14 de abril de 1958, quando a nave se desintegrou na reentrada. Quando puderam falar abertamente, anos depois, os cientistas se disseram arrependidos da crueldade. 

Se hoje a notícia faz marejar os olhos de muito marmanjo por conta da cadelinha perdida no espaço sideral, o lançamento significou um avanço tecnológico sem tamanho naquela época, durante a Corrida Espacial que a Guerra Fria financiou e incentivou.



O que muita gente não sabe é que Laika não foi o primeiro mamífero enviado para fora do planeta. Em 4 de junho de 1949, Albert II, um macaco, chegou a atingir 134 km de altitude antes de morrer por conta de impactos na aeronave que o carregava. Albert I, o macaco antecessor a ele, morreu durante o lançamento do foguete V-2. Outros dois macaquinhos, Albert III e IV, também foram mártires espaciais, morrendo durante lançamentos de seus foguetes devido a falhas nos pára-quedas.


Os gateiros podem contar vantagem, entretanto. Félicette, a primeira gatinha a dar um rolê espacial, teve eletrodos implantados na pele do seu corpo que transmitiam suas condições de saúde à equipe francesa que a enviou, em 18 de outubro de 1963, à altitude de 160 km. Ela voltou à superfície da Terra em segurança.
Mas voltando à Laika, afinal ela é a aniversariante; para lembrar a data, a Boitempo Editorial, através de seu selo Barricada, lançará no Brasil a graphic novel Laika (208 páginas, R$ 59), que abocanhou o Prêmio Eisner de 2008 na categoria Melhor Publicação para Adolescentes.

A obra, roteirizada e ilustrada pelo britânico Nick Abadzis, foi traduzida para 12 idiomas e conta a história da pequena heroína de quatro patas, misturando ficção e realidade. Abordando temas como afeto, escolhas e apego emocional, a graphic novel com certeza vai te levar às lágrimas.

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